quarta-feira, 3 de dezembro de 2008

Almoço fatídico

_____Marcamos de nos encontrar no restaurante. Eu dei uma de inocente, fingindo não saber o motivo do encontro, mas sabia no que ia dar. Muito bonito, como sempre, porém de olhar dissimulado (coisa que nunca me enganou), ele chegou com a mesma conversa de sempre, do tipo nitidamente mentirosa.
_____- Estava com saudade, May.
_____- Eu também estava.
_____Sentamos. O silêncio foi inevitável. O cardápio chegou, e logo ele pediu a carne bem passada.
_____- Mal passada para a senhorita?
_____- Não, você sabe que não como carne.
_____- Ah, perdão.
_____- Na verdade, não estou com fome. Não sei o motivo desse encontro...
_____- Ora, claro que sabe! Você sabe que é especial pra mim...
_____Ele começou a falar dele, dele e... dele, como SEMPRE! Ele é do tipo chato, filhinho de papai, ricasso, mas perdido na vida... um desperdício, porque ele tem bom coração.
_____- Vou viajar para longe semana que vem, e pensei que gostaria de te ver antes de passar tanto tempo longe.
_____Logo me vieram à cabeça as aventuras amorosas que ele teria por lá. Ia se embriagar diariamente e fazer loucuras com meninas fáceis, sem personalidade e fúteis, afinal, é a única coisa que o faz se sentir mais homem.
_____Os pratos chegaram. Começamos a comer. A minha comida parecia intragável. Era como se eu tivesse um caroço na garganta e não conseguisse engolir nada.
_____Ele pegou na minha mão, e eu me afastei.
_____- Você é perfeita pra mim!
_____- Você acha que eu sou perfeita? Ninguém é perfeito.
_____Ele se calou.
_____- Entendo o que você diz, eu não valho nada. Sou completamente perdido, fútil, ridículo, bêbado...
_____- É, tem que parar de beber assim. Não te faz bem, e você fica com um aspecto de acabado, sem contar que você só tem 19 anos e parece que tem 30!
_____- May, você é muito especial pra mim, acredite! Me divirto com tantas, faço tanta besteira, mas, sinto que você me ajudaria a ser um cara melhor... menos lixo, entende?
_____- Não sou sua mãe, não sou sua psicóloga, não sou sua babá...
_____- Eu sei! Que ridículo eu sou...
_____- Eu sou sua amiga. Você pode contar comigo, e sabe disso. Quantas vezes já não falei... mas sempre seremos só amigos.
_____- Casa comigo?
_____- Para de ser bobo... eu vou embora!
_____- Aí eu vou beber, e encher a cara! Por sua causa!
_____- Olha, não posso te impedir de fazer o que você quer. Não venha me culpar pela sua fraqueza porque você já é um homem e tem que assumir as conseqüências de seus atos.
_____- Fica aqui... por favor!
_____Me levantei, dei um beijo no rosto dele, e deixei 30 reais em cima da mesa pra ele pagar a minha conta. Quando saí, olhei pra trás, e vi que ele havia apoiado a cabeça sobre a mesa. Sem esperança, fiquei com pena, e a comida começou a se revirar no meu estômago.
_____Alguns meses depois, recebo uma e-mail.
_____"Querida May. Espero que me perdoe por tudo. Parei de beber, não saio mais à noite, fiz um curso intensivo de inglês e estou indo passar um tempo fora do Brasil. Deixei meus amigos, minha família, e tudo o que me fazia mal para trás. Você me fez perceber que tenho que mudar a minha vida, porque do jeito que tava, não ia dar mais!
_____Se algum dia quiser falar comigo, me ver, ou algo assim, por favor, me escreva, me ligue. Um beijo. Saudades, mesmo."

_____Um dia vou ligar pra ele, pra que ele me pague um almoço, pra tirar a má impressão do último. Acordei pensando nele, que por sinal, nunca mais me escreveu.

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